O Carnaval é uma amostra, na terra, de como será o inferno no céu.
Julio Camargo

Toda linha é eixo de um universo.
Novalis

O problema da natureza da matéria e sua constituição nos acompanha desde sempre e por tempos remotos.
Nosso conhecimento a respeito enfrentou a todo momento novos desafios e enigmas quase insondáveis. Os sábios nunca estiveram completamente de acordo sobre as relações existentes entre matéria e energia, uns pensavam serem conceitos absolutamente distintos, outros ao contrário as encontravam intimamente ligadas, a matéria seria mais que uma forma de energia.
O dilema da continuidade/descontinuidade da matéria; um assunto sempre em signo de interrogação e questionamento provocador. Um corpo, um objeto, uma entidade que ocupa uma parcela do espaço é infinitamente divisível, ou formada por pontos não contínuos e sem extensão?

Quais são seus componentes e estruturas elementares? Espaços, partículas, núcleos, átomos e moléculas. Qual é a origem da matéria? Como compreendermos os estados da matéria usuais? Sólido, líquido, gasoso ou ainda: plasmas, fluidos turbulentos, cristais líquidos ou então… Carnavalescos!

Saúdo com gratidão e alegria e do fundo do coração a todos os extraordinários foliões que reunidos no salão dançaram, brincaram, festejaram e se esbaldaram nessa noite de deslumbramento, que foi a deliciosa festa do Sarongue 2023: A Microfísica da Folia, O Baile da Quintessência! Saudamos sim, igualmente, o Carnaval, um momento liberador, de puro extravasamento de nossas cotidianas mazelas, de celebração da vida, o festim da brincadeira, muito brilho e cor. Ao longo do processo de concepção, desenvolvimento e realização e sobretudo do trabalho junto aos demais realizadores, ajudantes, fornecedores, assistentes e carnavalescos enfim, pude aprender e refletir bastante! Afinal os assombros e questionamentos da vida me acompanham a cada instante. A surpresa surge, diria, justamente ali diante de uma perspectiva incomum que nos revitaliza e arrebata, nos elevando assim a diferentes outros patamares de júbilo e compreensão. Tapa na Pantera. O que penso agora, ecoar, se desdobrar e enfim prevalecer de uma forma especial é o sentido da cooperação. Uma rede contributiva ao mesmo tempo tanto determinada como espontânea se produz, agenciando então uma comunicação intrínseca de solidariedade e afeto, empenho mútuo e colaboração para tornar aquilo possível, para fazer acontecer o baile. Vejo essas características também de alguma forma ao percorrer as ruas nos blocos pela cidade. Percebo para minha feliz surpresa a cada ano se fortalecer e se consolidar algo indispensável tal sua importância: o respeito aos demais. Cada um com sua fantasia! Algo vital na dinâmica de grupo, que reforça o sentido do coletivo, tão desnorteado e abalado ultimamente. Certa feita por acaso presenciei uma roda de capoeira há muitos anos na Praça XV que entoava justamente na sua canção uma correspondência notável e que me chamou a atenção, e dizia: ser o céu assim tão lindo e cheio de estrelas como entre nós de pessoas diferentes e que também podem brilhar… Uma bela correlação poderia observar; essa entre as indagações sobre densidades e espaços e aquelas oriundas dos vínculos sociais, troca e afeto, que faz liga, consideração e estima. Muito grato por ter a chance de poder contribuir nessa dinâmica toda, no projeto, debate e troca e no meio de tantas pessoas em êxtase, a bagunça divertida e total que amamos, que as vezes confesso um tanto assustadora para mim no princípio, mas, em seguida surpreendentemente rica, generosa e brincalhona. Creio assim e espero, com a formidável contribuição de cada um de nós, com a experiência compartilhada na dança, ali no meio do salão, possa levar consigo só alegria, e assim celebrar o amor e pular o carnaval! Viva!

José Damasceno, Rio de Janeiro 21/02/2023